Órgãos de Portugal

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Manifesto

 

O grau de desenvolvimento de uma sociedade é proporcional ao respeito e cuidado que essa mesma sociedade tem para com o seu passado e para com a riqueza herdada.

 

Se há alguma coisa de que Portugal se pode sentir orgulhoso é dos seus órgãos históricos. Possuem características únicas, muito próprias, que os diferenciam dos órgãos de qualquer outro país, inclusivé dos espanhóis - sem dúvida os mais semelhantes e que em conjunto marcam o estilo de organaria ibérico. Possuem uma arquitectura e timbre característicos reveladores da identidade cultural dos locais para os quais foram construídos.

 

Foi, sem dúvida nos séculos XVII e XVIII que a organaria portuguesa atingiu o seu máximo esplendor. 200 anos volvidos, o que podemos ver? Na minha opinião muito pouco. Grande parte deste património encontra-se irremediavelmente perdido, vandalizado ou abandonado. Os grandes órgãos portugueses, felizmente, têm sido restaurados e mantidos – em alguns casos melhor que noutros – e podem ser regularmente escutados em concerto. Mas existem muitos outros exemplos de instrumentos que poderiam também ser grandes e que só não o são por falta de cuidado, manutenção ou restauro.

 

Nem o Estado, nem Igreja, nem os particulares parecem muito empenhados em recuperar ou manter os seus órgãos históricos. Por ser caro? Porque quase nunca tocarem? Por acharem que não é da sua competência?

 

Na minha opinião, tem a ver com a falta de interesse da população relativamente aos aspectos culturais, e a falta de cuidado para com o património organístico é apenas um reflexo disso. A aparente inoperância das instituições, com honrosas excepções, é apenas a confirmação do estado de espírito generalizado, numa sociedade que fica à espera que o Estado resolva todos os problemas. A inexistência de um site português dedicado aos seus órgãos é também um pouco revelador dessa situação.

 

Existem certamente muitas pessoas que, não se conformando com este estado de coisas, têm despertado a atenção dos que os rodeiam de que algo tem de mudar no que diz respeito à forma de como o órgão de tubos é encarado.

Felizmente, nos últimos 10 anos temos assistido a uma animadora recuperação de importantíssimo património e construção de novos instrumentos. A última década do século XX terá sido certamente a mais feliz para a organaria nacional nos últimos 100 anos. Ainda assim, está-se longe de poder dizer que já estamos no bom caminho.

 

É necessário despertar as consciências para a riqueza que lhes apodrece nas mãos e que está ao seu alcance ajudar a recuperar. Esse despertar, acredito, passa muito por aprender e a desfrutar dessa mesma riqueza, algo que na maioria dos casos não acontece. Só poderá acontecer se quem puder mostrar o valor de um órgão, der a cara, arregaçar as mangas começando pelos amigos e conhecidos. Incluam-se aqui os organistas, músicos, professores de música e história, párocos, directores de coros, entusiastas da música, apaixonados pela história, etc...

 

Eu escolhi aprender a tocar órgão e decidi construir este pequeno site. Espero que seja útil a alguém e vá realmente de encontro ao que é manifestado neste texto.

 

Saudações organísticas

 

 

Nuno Carmona